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Resenha | Belas Adormecidas - Stephen King

  • Larissa Freitas
  • 23 de jan. de 2018
  • 4 min de leitura

Tributo Aceito


Se você nunca leu nada do Stephen King, muito menos de seu filho Owen, não recomendo começar por “Belas Adormecidas”. Não que eu ache que você não iria gostar, embora sempre exista essa possibilidade, mas sim porque realmente acredito que você iria aproveitar mais esta experiência se já tivesse na bagagem a compreensão de como os mundos dos King funcionam.


Não li nada de Joe e esse é o primeiro livro que leio do Owen, então vou tentar explicar de acordo com os livros que li do pai deles.


Para contextualizar meu texto, vou dar uma despretensiosa sinopse do livro. Se você já conhece o enredo, pode pular o seguinte parágrafo:


A história se passa numa cidade interiorana dos EUA, chamada Dooling, mas foi em todas as partes do mundo que as mulheres (de todas as idades) passaram a dormir e nunca acordar. Ao adormecerem, são encasuladas por uma espécie de teia (a coisa branca saindo do livro na foto acima representa exatamente isso. Deu pra perceber? Hahaha), formada por uma substância desconhecida. Se essa substância é removida à força, essas mulheres acordam quase que como infectadas pelo vírus da raiva, destruindo tudo e a todos (exceto, misteriosamente, seus próprios filhos) ao seu redor, para depois, voltarem a dormir. Os homens estão sozinhos na terra e, obviamente, a raça humana está em risco de extinção. A partir daí, acompanhamos as tentativas de solucionar esse problema inédito, só que em duas existências diferentes: o mundo dos homens e o mundo criado para as almas das belas adormecidas.


(Aqui é onde você, que já tinha lido uma sinopse, pode voltar a ler o texto).


Esse livro fala muitas coisas através de mulheres que não podem falar, já que estão adormecidas. Muitas de nós realmente estamos, não é mesmo? Já sabemos que os abusos, as agressões, o desprezo, a ignorância, aquelas vozes altas demais, tudo isso impede que muitas mulheres tenham uma vida digna.


Através dos personagens, somos capazes de enxergar críticas (não tão) veladas não só ao machismo enraizado na nossa sociedade, mas ao abuso de poder, ao sistema judiciário, legislativo e executivo, ao despreparo do governo, às injustiças sociais, ao preconceito em suas diversas formas.


Pra mim, dentro desse livro de ficção, há um manifesto e uma homenagem. Nem é preciso ler nas entrelinhas e nem ficar caçando significado em parágrafos que não possuem nenhum, já que tá tudo ali, bem na sua cara.


Não é um livro de terror que você já espera quando vê o sobrenome “King” na capa, mas justamente por retratar tantos aspectos da vida real, é assustador. Contém todo o suspense e medo que muitas pessoas passam por esse mundo a fora, amenizado por pensamentos e diálogos de personagens inventados por mentes inteligentes.


Foi muito interessante ler, da boca (ou dedos) de dois homens, relatos que, infelizmente, podem muito bem ser a realidade de muitas mulheres, de todas as raças e idades, sendo reprimidas pelos amores de suas vidas. Sejam eles pais, filhos, maridos, namorados, amantes, amigos, conhecidos ou estranhos nas ruas.


É um livro escrito por homens, sim. Os mesmos que jamais vão realmente entender como é ser uma mulher. Mas escreveram sobre grandes mulheres (o fato de serem fictícias não anulam seus méritos, né?) sendo reconhecidas pelo que elas são, e também, sobre algumas que não passam nem perto de serem bons exemplos a serem seguidos. Não existem santas nessa história e é exatamente por isso que gostei tanto.


Falei ali no começo que seria legal você já ter se ambientado no estilo de escrita do King e sobre como ele constrói seus mundos particulares justamente por isso: ele não costuma criar personagens que sejam inteiramente bons ou ruins, exatamente como nós, seres (humildemente) humanos. Ele sempre mostra que, dependendo das circunstâncias em que nos encontramos, somos capazes de atos extremos, pro bem ou pro mal. Nos faz pensar o que nós faríamos se estivéssemos em determinadas situações e nos chama de hipócritas quando mentimos para nós mesmos, sentados em nossas poltronas confortáveis, debaixo de um teto e quatro paredes, com nossa geladeira abastecida e uma caneca de bebida quente nas mãos.


Enfim, posso dizer que esta é uma leitura para ser compartilhada com os homens que nos rodeiam e, principalmente, nossos (futuros ou já presentes) filhos. Além de nós mesmas, é claro, sabemos que é a partir deles que as coisas podem começar a mudar, mesmo que saibamos que já deveriam começar a mudar agora. Tendo sido escrito por dois doas três rapazes King, talvez eles leiam, né?


Muitas pessoas tendem a achar que livros de fantasia ou ficção são incapazes de nos ensinar algo ou de agregar conhecimento, mas esse livro é um dos que, orgulhosamente, existem pra mostrar que eles estão enganados.


Obrigada, Stephen e Owen King. Eu aceito a homenagem. :)





P.s: Esse livro tem tudo pra virar um filme ou uma série. Deixo aqui minha previsão de que isso vai acontecer dentro de, no máximo, cinco anos. Veremos! Hahahaha.






Informações Adicionais: Título: Belas Adormecidas Autor: Stephen King e Owen King Editora: Suma (Grupo Companhia das Letras) Média de preço: R$: 44,90 Sinopse e Opções de compra: Saraiva e Amazon


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