Crônica | Reflexões do Desemprego
- Larissa Freitas
- 8 de fev. de 2018
- 4 min de leitura

Já começo com um aviso: Leia por sua conta e risco.
Não tem gerência pra reclamar depois, tá bom? Tá bom.
Não ter um emprego é desesperador, não vou mentir pra você. Mas acho que encontrei um ponto relativamente positivo e pensar sobre isso encheu tanto a minha cabeça, que resolvi despejar tudo aqui. Tornar público alguns desatinos particulares parece boa ideia no momento. Qualquer coisa, eu deleto depois, né? Então, vamos começar.
Quando digo "ponto positivo", não estou me referindo ao tempo extra pra dormir, a grande disponibilidade pra ver bons filmes e séries e nem ao aumento considerável de livros lidos durante esse tempo. Tudo isso é o óbvio e rapidinho (naquela época em que você não tem como pagar as contas. Isso mesmo, àquelas ingratas que não poderiam se importar menos com seus estado emocional) essa alegria passa.
O ponto positivo é que se existe uma reflexão que o desemprego obriga a gente a fazer, é sobre as escolhas que tomamos ao longo da vida. Começamos a nos questionar onde é que erramos pra, a essa altura da vida, estar completamente perdida. Será que foi quando não estudei pra aquela prova no terceiro ano do ensino médio? Ou quando escolhi meu curso pra faculdade? Ou foi culpa daquele estágio que me prendeu por tantos anos? Foi falta de ambição? Falta de coragem? Falta de...
Devo ter mais ou menos mil perguntas como essas dentro da minha cabeça e não me importaria de ficar algumas horas passando todas elas pro papel, mas isso me levaria a algum lugar diferente de onde eu estou agora? Talvez sim, mas custo a acreditar que seria um bom lugar, um lugar melhor.
Faço essa afirmação porque, quando encaro de frente todas essas dúvidas, vejo que elas só contam histórias do meu passado. Ao perceber isso, me vem outra pergunta (que de todas, é a única que sei a resposta) na cabeça: eu inventei ou possuo uma máquina de viagem no tempo? Antes que você fique todo esperançoso, já vou dizendo que a resposta é não.
Então, de que adianta ficar matutando sobre essas coisas? Tudo isso está completamente fora das suas mãos, já que o passado (até agora) é imutável. O que a gente pode fazer mesmo é entrar naquele processo demorado de aceitação, que muitos passam a vida inteirinha sem querer encarar. É complicadíssimo mesmo e, pra piorar, ainda temos que dar um jeito de pensar e nos questionar sobre o nosso futuro (já que ele é, basicamente, aquela contínua eleição na qual temos o dever e o direito de votar).
O futuro? Que futuro? Sei nem do meu presente, vou lá saber do meu futuro! Tá doida?
Ai meu Deus. Agora já tô pensando nisso. Já me bateu aquela ansiedade.
E é nesse pânico todo que só lembramos dos resultados ruins que podem (ou não) ser consequência de determinadas escolhas que fizemos, o que nos faz esquecer que todas as nossas decisões são responsáveis por nós sermos quem somos nesse exato momento. “Desempregados, né, querida?” Também, mas esse é um status passageiro. O que conta de verdade é os traços da nossa personalidade que foram moldados justamente por todos os nossos erros e acertos.
Até aqui, tudo (mais ou menos) bem. Acho que até esse momento, deu pra acompanhar meu raciocínio nada original, né? Só que aí as malditas perguntas podem ressurgir e com grande risco de se tornarem de caráter existencial (eu sou uma boa pessoa? O que eu faço pra ajudar o próximo? E pra ajudar o meio ambiente? Quem eu sou realmente? Deus existe?) e, meu querido leitor, você não quer seguir esse caminho aí não. Confia em mim, já caí na tentação de dar os primeiros passos e só encontrei mais buracos pra cair.
Pra mim, não existem respostas pra nenhuma das questões levantadas nesse texto. É um ciclo sem fim. O ser humano é que é meio trouxa mesmo, gosta de se frustrar perseguindo o próprio rabo e terminar chorando de tristeza ou de ódio do mundo, da vida, do universo e tudo mais (obrigada pelo empréstimo, Douglas Adams).
Se você ainda não me abandonou e continuou a leitura (e por isso, sou grata), deve estar se perguntando onde diabos eu quero chegar com essa lenga-lenga danada, né? A resposta é: em lugar nenhum. RÁ! Calma, antes de criar e/ou alimentar um ranço por mim, deixa eu te explicar: tudo isso foi só pra te fazer refletir e formular perguntas próprias (ou iguais as minhas também, eu empresto), porque elas são importantes, mesmo pra você que tem um empreguinho.
Essa crise toda não é só pros desempregados não, meu amigo. Sempre tem espaço pra mais um! Hahahaha.
Pra finalizar (consigo ouvir os gritos de alegria), quero mesmo é dizer que pra tudo (ou nada) que foi escrito aqui, existe uma resposta única, complicada e personalizada, de você para você, porque a sua história é só sua e não existe maior conhecedor do que você mesmo.
Parece conversa pra boi dormir, eu sei. Você pode até estar se sentindo meio engabelado agora, achando que falei, falei, mas não disse nada. Pode até ser verdade, já que praticamente acabei de escrever que não se pode ter certeza de quase nada nessa vida. Mas eu acredito de verdade que as respostas estão aí dentro de você, dentro de mim. Só falta a gente dar um “até logo”, sair da nossa cabeça e bater na porta do nosso coração. Chegando lá, é só se acomodar pra dar uma proseada e, quem sabe, até tomar um café...
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